VENEZUELANOS
publicado: 02/10/2019 19h35, última modificação: 02/10/2019 19h35
Assinados novos acordos para melhorar a interiorizaçãoFoto: Agência Brasil
Dois acordos, assinados pelo Governo Federal nesta quarta-feira (02), vão melhorar ainda mais a ajuda humanitária prestada aos imigrantes e refugiados venezuelanos.
Desde 2017 até agosto de 2019, segundo a Polícia Federal, mais de 480 mil venezuelanos entraram no Brasil, sendo que mais de 280 mil saíram, totalizando um saldo migratório de mais de 200 mil pessoas de nacionalidade venezuelana em território nacional.
Cerca de 500 pessoas ainda cruzam, todos os dias, a fronteira da Venezuela com a cidade de Pacaraima (RR). A Casa Civil da Presidência da República coordena o trabalho de acolhida e apoio aos venezuelanos.
A Operação Acolhida conta com centenas de militares voluntários do Exército, representantes de organismos internacionais e do governo de Roraima, que ajudam quem chega a tirar documentos, tomar vacinas e conseguir um emprego no Brasil.
Acolhimento em Roraima
O primeiro acordo assinado é de Cooperação Técnica com a Fundação Banco do Brasil, que vai criar um fundo privado para receber doações para a Operação Acolhida. Atualmente, sete mil pessoas vivem nos treze abrigos organizados pelo Governo Federal em Roraima, sendo onze em Boa Vista e dois em Pacaraima.
Uma delas foi Maria Fernanda Hernandes Munhoz. “Foi fácil conseguir os papéis, três, quatro dias. E rapidinho consegui um abrigo. Tem muita ajuda para não ficar na rua”, afirmou a venezuelana que chegou ao Brasil em janeiro e foi recebida pela Operação Acolhida em Pacaraima.
Assim que chegam ao Brasil, os venezuelanos são recebidos com ações de saúde e de retirada de documentos. Desde 2017, foram emitidos mais de 157 mil CPFs e mais de 70 mil Carteiras de Trabalho e Previdência Social. No atendimento à saúde, foram aplicadas mais de 215 mil vacinas em Roraima. Já na proteção social e defesa de direitos, foram realizados 3.183 atendimentos da Defensoria Pública da União em Pacaraima.
Nos abrigos, os acolhidos têm três refeições por dia, kits de higiene pessoal e limpeza, fraldas, aulas de português, atividades com crianças e culturais, matéria-prima para artesanato indígena Warao, telefones para falar com parentes na Venezuela e segurança 24 horas.
Programa de Interiorização
Já o segundo documento assinado é o Protocolo de Intenções para incentivar municípios brasileiros a acolherem os venezuelanos por meio de parcerias entre vários ministérios e organismos.
Desde o início do processo de interiorização, em abril de 2018, mais de quatorze mil venezuelanos já foram interiorizadas em mais de 250 cidades brasileiras, ou seja, transferidos voluntariamente para outros estados com estrutura de abrigo, cursos ou oferta de emprego.
O Programa de Interiorização dos Venezuelanos é um dos pilares da Operação Acolhida e conta também com a participação de organismos internacionais, governos locais e ações de diversos ministérios.
Tão grande quanto a esperança de uma vida melhor para quem chega, é o amor de quem acolhe. Elisabeth Batalha é presidente da antiga organização não-governamental Associação de Apoio à Mulher Portadora de Neoplasia (AAMN). Há quinze anos, começou a abrigar mulheres que iam tratar da doença no Rio de Janeiro e não tinham onde ficar.
Olhando a situação das estrangeiras, mudou o nome da ONG e passou a acolhê-las também. Hoje a organização se chama Associação Carioca de Apoio à Mulher Portadora de Neoplasia e Refugiados. Atualmente acolhe vinte e duas venezuelanas. “Em geral, são solteiras e têm entre 18 e 32 anos. Ao contrário das congolesas, chegam sem filhos. Deixaram as crianças e vieram ganhar dinheiro pra remeter à família”, contou.
Em parceria com a Cáritas, organismo da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), elas fazem curso de português, recebem alimentação e apoio até conseguirem um emprego. As maiores dificuldades são “a inserção no mercado de trabalho e a saudade da família. Todas as histórias tem muita dor no meio”, relatou a acolhedora.
Entre dor e saudade, todas aos poucos vão se reerguendo. Elisabeth se orgulha especialmente do caso de uma engenheira de produção acolhida por ela e que hoje é microempresária. “A gente fica muito feliz”!
Quem também está nesta batalha por um emprego e uma nova vida é a venezuelana Maria Fernanda. Após cinco meses no abrigo em Boa Vista, ela entrou no processo de interiorização e hoje é uma das imigrantes venezuelanas abrigadas pela ONG de Elisabeth.
Com apenas 23 anos, deixou na Venezuela pai, avô e irmãos para conseguir um emprego e enviar dinheiro para alimentar todos eles. O esposo está tentando vir também. Mas, por enquanto, ainda estão longe um do outro.
O esforço, aos poucos, já dá frutos para Maria Fernanda e sua família. “Estou trabalhando de babá há dois meses”, comemorou. O próximo passo é “ajudar meu esposo pra que ele também venha pra cá e trabalhar os dois pra família”, adiantou.
Apesar do esforço pela sobrevivência, o desejo é um dia poder retornar. “Em algum momento que a Venezuela fique melhor, eu volto. Eu sinto saudade deles”, disse.
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