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FALANDO NOVAMENTE AO POVO, JESUS DISSE: ''EU SOU A LUZ DO MUNDO. QUEM ME SEGUE NÃO ANDARÁ EM TREVAS, MAS TERÁ A LUZ DA VIDA. JOÃO 8:12

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sábado, 2 de novembro de 2019

SERIE: O SERMÃO DA MONTANHA. ESTUDO Nº 24: O NOSSO IRMÃO: OFENSA, RECONCILIAÇÃO E SALVAÇÃO.



Por Markus DaSilva, Th.D.


Na sequência do Sermão da Montanha, Jesus segue esclarecendo para os seus discípulos qual é a correta maneira de guardar o sexto mandamento de Deus que nos proíbe de matar a um outro ser humano: “Não matarás” (Exo 20:13). No estudo anterior, explicamos que enquanto os religiosos ensinavam a guarda deste mandamento tendo como base a “letra da lei”, se limitando assim ao ato físico de tirar a vida de alguém, Jesus nos ensina que a obediência deste e de todos os outros mandamentos de Deus deve ter como fundamento o “espírito da lei”, que foca não na consumação do pecado, mas sim na sua raiz, ou origem, que é o coração do homem: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mat 15:19).
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"É importantíssimo que além de nos incentivar a adorar a Deus, a nossa liderança também ensine os requerimentos para que a nossa adoração seja aceita."
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Esta maneira correta de obedecer ao mandamento de não matar o nosso semelhante, se inicia então quando interrompemos o primeiro ato pecaminoso que é se irar contra alguém. Obviamente, se ninguém jamais nos ofendesse então também jamais surgiria qualquer raiva, ou ódio, ou ira no nosso coração, e então estaríamos livres de cometer o pecado de assassinato. Sabemos, no entanto, que enquanto estivermos vivendo aqui neste vale de lágrimas, teremos que lidar, quase que diariamente, com ofensas direcionadas à nossa pessoa. A triste realidade é que quanto mais seres humanos vemos no nosso dia a dia, mais ofensas recebemos. Algumas destas ofensas são intencionais e outras não; algumas são bem superficiais e simples enquanto outras são profundas e complexas. Independentemente do tipo de ofensa que recebemos, Jesus nos diz que se não perdoarmos quem nos ofendeu logo de cara, e irarmos contra o nosso ofensor, estamos cometendo o pecado de assassinato, e se não fizermos algo sobre a situação corremos o risco de sermos lançados no fogo do inferno: “…quem lhe disser: “tolo”, corre o risco de ir para o fogo do inferno” (Mat 5:22). [Μωρέ (moré) tolo, idiota, estúpido].
Esta é a primeira parte da explicação que Jesus nos deu sobre este mandamento. Na segunda parte, Jesus continua o raciocínio, mas agora a situação se inverteu. Cristo explica o que deve ser feito quando é o nosso irmão que está ofendido conosco por alguma coisa que fizemos: “Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta” (Mat 5:23-24). Esta segunda parte é possivelmente então uma evolução que ocorreu porque permitimos que se desenvolvesse a ira no nosso coração e acabamos por ofender ao nosso semelhante. Embora, se seguirmos a correta sequência do relato de Jesus, indo dos versículos 21 e 22 e chegando ao 23, é possível também que a raiva que surgiu em nós foi de fato devido à reação inesperada da outra pessoa pela ofensa que nós mesmo iniciamos: “teu irmão tem alguma coisa contra ti” (Mat 5:23).
Estas palavras de Jesus no Sermão da Montanha são sem dúvidas um dos mais severos alertas relacionados à nossa salvação que encontramos na Bíblia Sagrada. Mas, como se ainda não bastasse, Jesus segue adiante com uma ilustração para que ficasse mais do que claro, não só o que devemos fazer com aqueles que temos desavenças, como também o que ocorrerá caso decidamos não dar ouvidos ao seu alerta: “Concorde depressa com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho [para o tribunal]; para que não aconteça que o teu adversário te entregue ao juiz e este ao guarda, e sejas lançado na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último centavo” (Mat 5:25-26). Ao lermos esta parte da parábola, somos inclinados a interpretar a “prisão” do versículo 25 como se referindo ao “inferno” do versículo 22, mas o fato de Jesus levantar a possibilidade da pessoa sair da prisão quando pagar a sua dívida, enfraquece a conexão, pois não encontramos respaldo nas Escrituras para crer que alguém possa sair do inferno: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna” (Mat 25:46 Ver também Dan 12:2). “E além disso, entre nós e vós está posto um grande abismo, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem os de lá passar para nós” (Luc 16:26).
Muito se pode falar destas palavras de Jesus, mas comecemos com a primeira parte que lida com a nossa adoração e louvor a Deus: “Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar” (Mat 5:23). Este detalhe do alerta de Cristo tem uma grande relevância para o estilo de igreja nestes últimos dias. Se no passado existia uma clara separação entre aqueles que lideravam e aqueles que assistiam aos nossos cultos, este não é mais o caso. Adoração e louvor são termos extremamente populares nas nossas denominações e todos nós somos constantemente encorajados a adorar e a louvar a Deus, seja em um papel mais ativo à frente ou mais passivo nos assentos. Isto é algo tão forte que até as nossas músicas, que há poucos anos eram conhecidas como hinos e corinhos, agora são chamadas de “louvores”. Tudo isto é muito bom, pois de fato todos nós somos exortados a adorar e a louvar ao nosso Deus (1Cr 16:23-31). Mas, é importantíssimo que além de nos incentivar a adorar a Deus, a nossa liderança também ensine os requerimentos para que a nossa adoração seja aceita.
Jesus, no Sermão da Montanha, nos ensina que antes de praticarmos qualquer ato com o objetivo de honrar a Deus — adoração e louvor — teremos primeiro que fazer as pazes com os nossos irmãos. A ilustração acima, onde a pessoa que estava para fazer um sacrifício interrompe a cerimônia, vai atrás do irmão que ele ofendeu para se desculpar, e só depois volta ao altar para fazer a sua oferta é extremamente forte e clara. Deus não tem o menor interesse nas nossas expressões de amor para com Ele, caso não estejamos também dispostos a amar ao nosso irmão. Ainda ontem, conversando sobre esta passagem bíblica, a minha esposa me contou que vários anos atrás quando cantava em um coral no Brasil, algumas horas antes de uma importante apresentação, o seu maestro, um homem temente a Deus, anunciou aos membros do coral que o Espírito Santo não estaria presente com eles no palco a menos que todos estivessem em paz uns com os outros, e a seguir lhes deu um tempo para conversarem entre si sobre qualquer atrito que tivessem. Ela disse que de fato, durante aproximadamente 40 minutos, por várias vezes ela viu as pessoas, dois a dois, pedindo perdão pelas ofensas cometidas. O que este maestro fez, é um grande exemplo a ser seguido: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu. E dele temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão” (1Jo 4:20-21).
Mas falemos um pouco sobre o aspecto de urgência nas palavras de Jesus. Nesta parábola, vemos duas pessoas com uma causa na justiça caminhando rumo ao tribunal. Uma delas, aquela que se encontra claramente errada e em desvantagem nesta demanda, somos nós. A outra, aquela que certamente obterá um julgamento ao seu favor, é o nosso irmão; e o juiz, entendemos ser Deus. Jesus então nos diz qual é a nossa única saída para esta situação extremamente delicada em que nos encontramos: “Concorde depressa com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho…” [ἴσθι εὐνοῶν τῷ ἀντιδίκῳ σου ταχὺ, ἕως ὅτου εἶ μετ ᾿ αὐτοῦ ἐν τῇ ὁδῷ (isthi eunoôn to antídico su tarrú ios otu i met aftu en te odo)]. (Mat 5:25). Aqui vemos claramente o tom de urgência nas palavras de Jesus, um aviso de que não temos tempo a perder.
A aplicação desta parábola na vida do cristão é óbvia. Algo que notamos logo de imediato é que se sabemos que de fato o nosso irmão tem algo contra nós, não devemos de forma alguma permitir que esta mágoa que ele tem chegue até a Deus. Também notamos que a iniciativa deve vir de nós e com uma atitude de completa submissão. O uso do verbo [εὐνοέω (eunoéo)] traduzido como “entrar em acordo” ou "acertem suas diferenças" como se lê na maioria das Bíblias em português não reflete de forma alguma o peso das palavras de Cristo, pois dá a entender que devemos dialogar com o irmão para ver se no final encontremos um meio-termo e ambos fiquemos satisfeitos com a decisão. A expressão — usada apenas uma vez na Bíblia Sagrada — poderia ser bem melhor traduzida como: “concorde” ou “seja amigável”, ou ainda mais correto: “concorde com ele amigavelmente”. Ou seja, se sabemos que erramos com o nosso irmão, devemos assumir o erro e aceitar sem protesto a sua exigência antes que ele reclame a Deus. Isto deverá ser feito, ainda que no íntimo achamos que ele está exagerando ou que não estamos completamente errados no que ocorreu. O apóstolo Paulo também aconselha a mesma atitude de humildade quando nos escreveu: “Na verdade já é uma completa derrota para vós o terdes ações judiciais uns contra os outros. Por que não aceitais a injustiça? Por que não sofreis o prejuízo?” (1Cor 6:7). Ou seja, mesmo achando que temos razão, por que, por amor a Deus e ao nosso irmão, não aceitamos o sofrimento? (Mat 22:37-39).
E por último neste ensino do Sermão da Montanha, aprendemos que não devemos jamais imaginar que conseguiremos convencer ao Juiz de que o motivo que ofendemos o nosso irmão foi justo. Este último detalhe é importante porque frequentemente achamos que certas ofensas são justificáveis e que Deus entende e está do nosso lado. Note que Jesus deixa bem claro que o único motivo que Deus nos condenará é porque o nosso irmão “tem alguma coisa contra nós”, isto quer dizer que os detalhes de como a ofensa ocorreu é irrelevante. Se estamos a par de que o nosso irmão tem algo contra nós devemos procurá-lo imediatamente, e com humildade pedir perdão e prometer que tal ofensa não mais ocorrerá.
Com muita tristeza e vergonha, deixe-me dar um testemunho pessoal aos irmãos. Quando eu era um adolescente e ainda sem Jesus no meu coração, fui um vendedor bem competitivo em uma loja de calçados no interior de Minas Gerais, no Brasil. Lembro-me que na minha disputa exagerada por vendas, magoei a uma colega vendedora, cristã e muito meiga, a ponto de fazê-la entrar no banheiro para chorar. Do lado de fora, podia-se ouvir ela sussurrando em lágrimas: “eu nunca fiz mal a ninguém”. Cerca de 30 anos depois, quando assim como ela eu me tornei um servo de Cristo, o Espírito Santo me lembrou do evento e ficou bem claro que eu deveria rastrear o paradeiro desta querida irmã até conseguir o seu telefone e me desculpar (João 14:26). Obedeci à voz do Senhor e depois de alguns telefonemas, descobri a cidade onde morava e uma parente me deu o seu número, liguei para ela, lhe falei quem eu era, expliquei o motivo de estar lhe procurando depois de tantos anos, e me desculpei. Ela se lembrou de mim, talvez para não me entristecer, disse que não se recordava do ocorrido, mas ouviu o meu pedido de desculpa e me desculpou. Eu fiz exatamente o que Jesus nos disse nesta passagem: “Concorde depressa com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho…” (Mat 5:25). Para o meu próprio bem, o Espírito Santo não queria que esta situação pendente chegasse ao Juiz: “E vi os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono; e abriram-se uns livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras” (Apo 20:12).
Queridos, eu sei muito bem que existem casos de ofensas entre os irmãos que são bem complexos e que uma aproximação poderá ser mal interpretada e piorar a situação. Eu sei, e Deus também o sabe. Para estes casos, necessitamos um direcionamento especial do Senhor. E pode ser que em algumas situações nunca haverá uma oportunidade para se pedir fase a fase que o nosso irmão nos perdoe ou para dizer que ele foi perdoado. Mas a maioria dos casos não são assim. Geralmente as nossas desavenças podem ser resolvidas sem maiores problemas, bastando apenas colocar a nossa fé em prática, nos humilhar e procurar o nosso irmão em um genuíno desejo de estar bem com ele e com o nosso amado Deus. Independentemente da situação, complexa ou simples, devemos ter a nossa consciência tranquila perante Deus, que sonda os corações (Jer 17:10), que no que depender de nós, já perdoamos todas as ofensas recebidas e nos arrependemos de todas as ofensas cometidas: “Se for possível, quanto depender de vós, estai em paz com todos os homens” (Rom 12:18). Espero te ver no céu.
Para obter a versão mais recente deste estudo, com possíveis revisões, correções ou material adicional, favor acessá-lo na web: Ler Estudo na Web .

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