Por Markus DaSilva, Th.D.
Conforme expliquei na semana passada, embora Jesus não tenha usado o
termo “graça” quando nos ensinou o caminho da salvação, a realidade é
que o evangelho de Cristo é o evangelho da graça nos enviado do Pai.
Graça, como falamos na primeira parte da série, se trata da maravilhosa
dádiva da salvação que nos foi concedida simplesmente porque o Pai se
agradou de nós, tal qual Jesus nos disse: “Não temas, ó pequeno rebanho,
porque a vosso Pai agradou dar-vos o Reino” (Lc 12:32).
A salvação pela graça difere em muito da salvação pela lei cerimonial
porque enquanto a graça possui como foco o amor e a bondade de Deus (Jo 3:16), a lei se concentrava na observância dos rituais simbólicos que apontavam para o Messias. Lei esta que se tornou obsoleta (Mt 5:17)
com o nascimento, vida e morte de Jesus, o Cristo (Grego: Χριστός –
Cristos significa Messias). Por cerca de quatro mil anos, no entanto,
Deus honrou todo o adorador sincero que se apoiava na lei para obter a
salvação (Lc 1:6; Lc 2:22; Lc 2:39). Lembremos que não apenas a graça, mas também a lei, nos foi dada por Deus.
PARTE 3 — Paulo e a Graça. Os apóstolos e a Graça.
Até a sua experiência na estrada para Damasco, o apóstolo Paulo não
entendia nada disso. Como o fiel fariseu que era, Saulo (o seu nome em
hebraico) cria que a única coisa que Deus estava interessado era na
estrita observância das leis cerimoniais, nos rituais do templo, e na
eliminação de tudo aquilo que fosse uma ameaça à tradição judaica. Ele
era grandemente orgulhoso das obras da carne: “Se algum outro julga
poder confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da
linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus, …segundo a
justiça que há na lei, irrepreensível.” (Fp 3:4-6).
Somente após ter recebido diretamente de Jesus o conhecimento da graça,
ele pode perceber que o que Deus realmente quer dos seus filhos não é a
observância de rituais e tradições, mas sim um viver inteiramente
voltado para Ele e separado do mundo (Cl 3:2-3); ao invés dos sacrifícios de animais, devemos ser sacrifícios vivos (Ro 12:1).
A sua maior surpresa foi ver que apesar de ser um perseguidor de
Cristo, e quando ainda confiava nas suas obras, Deus se agradou dele,
estendeu-lhe a graça, concedeu-lhe o dom da fé, e o chamou para ser o
missionário para os gentios. Foi dentro deste contexto, que o nosso
irmão Paulo escreveu: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e
isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se
glorie” (Ef 2:8-9).
Paulo reflete aqui a bondade que Deus estendeu a ele quando ainda vivia
em pecado, perseguindo a igreja na sua fidelidade ao legalismo
farisaico (Ro 5:8).
“Muitos têm crido nestes últimos dias que ser salvo pela graça significa que o que fazemos ou deixamos de fazer é irrelevante para Deus.”
Graça é um ato de bondade estendido a alguém. Misericórdia também é
um ato de bondade, mas difere da graça na sua motivação. Nas muitas
passagens bíblicas já mencionadas na primeira parte desta série, vemos
que graça é uma bondade concedida porque o doador agradou por algum
motivo da pessoa que precisava do ato de bondade: “Deus livrou-me,
porque tinha prazer em mim” (Sl 18:19),
como disse o Rei Davi. Já a misericórdia se estende a qualquer um. Um
exemplo do que quero explicar seria quando damos uma esmola a uma
pedinte no sinal vermelho. Esse seria um ato de misericórdia, e não de
graça, já que ajudamos não porque ela nos agradou em algo, mas
simplesmente porque tivemos compaixão. Todo o homem, salvo ou não, se
beneficia da misericórdia de Deus a cada segundo da sua vida (Lm 3:22-24); mas poucos são os que lhe agradam e alcançam a sua graça. Vemos isso claramente no dilúvio, com Noé (Gn 6:8); e em Sodoma e Gomorra, com Ló (Gn 19:19).
A graça da salvação é dada àqueles que agradam a Deus por algum
motivo. Honestamente, eu não sei que motivos são estes, porém é certo
que a onisciência de Deus está conectada com o fato dele se agradar de alguns, mas não de todos (Is 46:10; Sl 139:4).
Esta verdade se confirma nas palavras do Senhor a Jeremias: “Antes que
eu te formasse no ventre te conheci, e antes de nascer te separei” (Jr 1:5). Este é um grande mistério e tal conhecimento é profundo demais para mim (Sl 139:6),
mas a realidade é que aqueles que não agradam a Deus não alcançam a
graça da salvação: “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 22:14).
Queridos, qual é o motivo desta série? Por que tenho passado horas e
horas meditando, pesquisando e orando sobre este tema? Faço isto porque
vejo que muitos dos irmãos estão correndo o risco de não subirem com
Cristo porque, baseado em uma má teologia, utilizam da graça como
argumento para continuarem apegados às coisas do mundo. Ninguém
alcançará a graça sem uma firme decisão de agradar somente a Deus em
todo o seu viver (Mt 22:37).
Irmãos, muitos têm crido nestes últimos dias que ser salvo pela graça
significa que o que fazemos ou deixamos de fazer é irrelevante para
Deus. Mas se assim o fosse não seríamos exortados à perfeição por Jesus:
“Portanto, sede vós perfeitos, como perfeito é vosso Pai que está nos
céus” (Mt 5:48); à humildade por Paulo: “Sejam totalmente humildes e mansos, e com paciência, suportem uns aos outros em amor” (Ef 4:2); ou à santificação por Pedro: “Sede vós também santos em todo o vosso procedimento” (1Pe 1:16); ou ao amor por João: “Não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade” (1Jo 3:18); ou às boas obras por Tiago: “Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2:17); ou à evangelização por Judas: “Tenham compaixão daqueles que duvidam; a outros, salvem, arrebatando-os do fogo” (Jd 1:22-23); ou à persistência pelo Espírito: “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2:10).
Pelas passagens mencionadas acima, podemos ver que o próprio Senhor e
todos os apóstolos, incluindo Paulo, ensinam claramente que graça não é
licença para ignorar os mandamentos de Jesus. Já disse e agora repito:
ninguém se salvará amando o mundo e as coisas que há no mundo (1Jo 2:15).
Ninguém se salvará amando qualquer coisa a mais do que a Cristo. E este
amor, não é demonstrado somente de boca, mas sim em atos, no abandono
dos prazeres do mundo. Simplesmente dizer que Jesus é nosso Senhor não
basta: “E por que me chamam de Senhor, Senhor, e não fazem o que lhes
digo?” (Lc 6:46).
Finalizo lembrando a vocês que ao crermos em Jesus, passamos a ter o
Espírito de Cristo habitando no nosso corpo; Espírito esse que não
continuará em nós se persistimos em ignorar a sua voz quanto ao morrer
para o mundo (Sl 51:11-12). Não existe graça para quem se ensurdeceu para o Espírito do Senhor. Espero te ver no céu.
Nesta série:- Parte 1 – Graça: Uma Breve Introdução No Uso Da Palavra.
- Parte 2 – Jesus e a Graça. Como alcançamos a Graça.
- Parte 3 – Paulo e a Graça. Os apóstolos e a Graça. (Este Texto)
- Parte 4 – Crescendo na Graça. Caindo da Graça.