Publicado em 01/05/2020 - 08:05 Por Rodrigo Ricardo - Repórter da Rádio Nacional - Rio de Janeiro
O primeiro de Maio não
vai ser motivo de comemoração para 62 pessoas demitidas pelo Flamengo
às vésperas do feriado do Dia do Trabalhador. Após 46 dias de
paralisação do futebol por conta da pandemia do novo coronavírus, o
clube mais popular do país escolheu reduzir custos, cortando cerca de
10% dos funcionários. “Ficamos tristes, sentidos, mas não temos muito o
que fazer”, lamenta o presidente do Sindicato dos Empregados em Clubes,
Federações e Confederações Esportivas (Sindeclubes), José Pinheiro.
Segurança do Flamengo há 45 anos, Pinheiro diz que, diferente de outros
períodos, os trabalhadores receberão todas as verbas rescisórias a que
fazem jus e que o clube, como empregador, também está dentro do direito
de reduzir a folha de pessoal: “Poderíamos protestar, mas neste momento
não teria jeito. Vivemos uma fase triste”.
O Flamengo também estabeleceu um critério
para corte de salários. Para os funcionários que ganham mais de R$ 4
mil, o clube descontará 25% do valor recebido acima destes R$ 4 mil. O
caminho da redução de salários é o mesmo adotado por 80% dos clubes da
Séria A do Campeonato Brasileiro. Entretanto, a maior parte busca poupar
os funcionários com salários menores. O Palmeiras, por exemplo, optou
em reduzir este mesmo percentual dos rendimentos de atletas e comissão
técnica.
“Esta crise implica em questões éticas
delicadas nas relações entre clubes e profissionais. Mas configura um
certo absurdo e provoca protestos na sociedade e nas redes sociais o Fla
não mexer, aparentemente, nos astronômicos vencimentos de jogadores e
atingir os funcionários mais pobres”, analisa o comentarista esportivo
Márcio Guedes. “É injusto, e não faz sentido, um clube de massa, com
milhões de torcedores de baixa renda, voltar-se contra os mais
humildes”.
O sócio e conselheiro do Flamengo David
Butter também estranhou a decisão, principalmente porque está publicado
no site a demonstração financeira do clube, pontuando que ele poderia
suportar por três meses a pressão econômica provocada pela crise criada
pela covid-19. Neste mesmo texto, o Fla também ressalta a preocupação
com a segurança dos funcionários. "Vamos questionar e tentar entender a
razão de, nesta hora mais sombria, cortar na cadeia salarial mais baixa.
Entendemos que agora é preciso preservar os vínculos e cumprir parte de
uma missão de responsabilidade social”, avalia Butter, que integra o
grupo Flamengo da Gente. “Quem pode dizer se isto poderia ser evitado ou
não é a diretoria e o conselho diretor. Eles têm os elementos de
decisão para nos dar uma resposta plena. Vamos pedir explicações”.
Procurado pela reportagem da Agência Brasil, o Flamengo disse que não vai se manifestar sobre o caso.
Segundo o consultor da Ernest Young
Alexandre Rangel, todas as receitas dos clubes estão travadas e a
previsão é de que o quadro se agrave: “As autoridades não sabem dizer
quando o futebol pode voltar. Há um cenário de indefinição e a tendência
é a de que todos os [clubes usem todos os] artifícios legais: redução
de salários, suspensão de contratos de trabalho e demissões. É
inevitável".
O consultor também diz que, mesmo com a
volta da normalidade, o dinheiro leva, em média, de 90 a 120 dias para
entrar no caixa dos clubes: “Isso é só o começo do movimento,
desesperador para a maioria, e ainda controlável para alguns”.
Ouça a íntegra da reportagem na Rádio Nacional.
Fonte: Agência Brasil
Edição: Fábio Lisboa
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