CURIOSIDADES SOBRE A REFORMA PROTESTANTE DIA 31 DE OUTUBRO
Há 500 anos Martinho Lutero lançou duras críticas à Igreja Católica que desencadearam mudanças profundas que levaram à divisão da cristandade em protestantes e católicos. A revolução causada por Martinho Lutero, contudo, não foi planejada. Iniciada em 1517, ela se desdobrou em questões não somente religiosas mas também políticas e sociais que exigiram de Lutero respostas imediatas e nem sempre coerentes. Veja abaixo, 10 coisas pouco conhecidas do líder da Reforma. 1. Formação religiosa Martinho Lutero era católico e, aos 22 anos decidiu tornar-se um monge agostiniano por promessa feita à Santa Ana, a quem rogou que lhe salvasse de uma violenta tempestade. Foi ordenado sacerdote em 1507. Estava, então com, 24 anos. Em 1512, concluiu o doutorado em Teologia e se tornou professor na Universidade de Wittenberg, na Alemanha. 2. Visão teológica Como profundo estudioso, Martinho Lutero desenvolveu uma visão teológica particular que transmitiu aos seus alunos, muito antes do célebre episódio das 95 teses. Ela baseava-se em quatro princípios: A Bíblia é a única referência da verdade. A Igreja católica, na época, também se baseava em textos adicionais escritos pelo papa e pelo sínodo. A salvação só vem por meio da graça de Deus e não pelas boas ações. Essa crença tornava a venda de indulgências obsoleta. Jesus Cristo, através de sua morte na cruz, pagou a pena por todos os pecados e é a única ponte entre os homens e Deus. Isso acaba com a função do clero e dos santos como ligação entre o crente e Deus. As pessoas são salvas somente pela fé, isto é, a salvação não depende das indulgências, nem da confissão, da peregrinação a lugares santos ou de qualquer outra exigência da Igreja. 3. Venda de indulgências Diferente do que muitos pensam (e os livros didáticos repetem), Martinho Lutero não era contra as indulgências, como ele mesmo afirma em sua tese 71: “Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas”. Na verdade, ele era contra a venda das indulgências por inescrupulosos como era o caso do frade dominicano Johann Tetzel com quem Martinho Lutero entrou em atrito direto. Aliás, Tetzel acabou sendo condenado (embora mais tarde, perdoado) por ter cometido fraudes e desfalques. Venda de indulgências, baseada em xilogravura de Jorg Breu, o Velho (c.1475-1537). Conta-se que o frade dominicano Johann Tetzel anunciava, durante o negócio: “Assim que as moedas tilintam no fundo da caixa, a alma do fiel voa direto para o Paraíso”. 3. As célebres 95 Teses Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero enviou uma carta a Alberto de Brandenburgo, o arcebispo de Mainz, sob cuja autoridade as indulgências estavam sendo vendidas. Na carta, Lutero se dirigiu ao arcebispo por um leal desejo de alertá-lo para os problemas pastorais criados pelos sermões de indulgência. Anexou à carta as célebres 95 Teses denominadas Disputação do Doutor Martinho Lutero sobre o Poder e Eficácia das Indulgências. Tratava-se de uma lista de proposições para serem levadas a uma discussão acadêmica, mas tal evento nunca ocorreu. Nessas teses, Lutero apresentou sua posição contra o que ele denunciou como práticas abusivas dos pregadores na venda de indulgências. O episódio dele ter pregado as 95 Teses, com um martelo, na porta da igreja do castelo de Wittenberg, nunca foi provado. Pode ter acontecido conforme os estatutos da Universidade de Wittenburg que exigia que as teses fossem impressas pela imprensa universitária e fixadas em cada porta da igreja da cidade. Contudo, não há certeza se isso aconteceu de fato e nem da data, caso tenha acontecido. De qualquer forma, o 31 de outubro de 1517 é considerado o início da Reforma Protestante. 5. Reformar a religião Martinho Lutero não pretendia criar uma nova religião. Pretendia apenas reformar a Igreja e a fé junto às autoridades religiosas, e não contra elas. Ele via o Papa como o intercessor de Cristo na terra, como se lê nas suas teses 61, 69 a 81, 83, 84, 87 a 91. Martinho Lutero só passou a hostilizar a Igreja depois de ter sido expulso dela, ao ser excomungado pelo papa Leão X em 3 de janeiro de 1521. Os poderosos príncipes alemães viram neste conflito uma oportunidade de apoderar-se do imenso patrimônio da Igreja e daí terem sido eles os que mais incitaram Martinho Lutero a romper com o Papa. 6. Tradução da Bíblia Martinho Lutero não foi a primeiro a traduzir a Bíblia. Desde 1466, existiam 17 traduções católicas da Bíblia, três em baixo-alemão e quatorze em alto-alemão – fato que contesta a ideia corrente de que Igreja proibia o povo ler a Bíblia. Martinho Lutero foi, porém, o primeiro a usar o grego como texto original, e não a tradução latina. Ele traduziu o Novo Testamento para o alemão em apenas 11 semanas. Sua tradução superou todas as traduções para o alemão anteriores pela qualidade linguística, poesia e simplicidade. A primeira edição da Bíblia luterana foi publicada em outubro de 1522. 7. Encontro com o diabo Há uma lenda sobre o castelo de Wartburg onde Martinho Lutero ficou escondido. Conta-se que no quarto em que ele passou grande parte do tempo traduzindo a Bíblia, o diabo se escondeu atrás da lareira de azulejos e atirou seu tinteiro contra ele manchando a parede com a tinta. Hoje, o local é visitado por milhares de turistas que ainda perguntam sobre a mancha de tinta na parede. Quarto de Martinho Lutero no castelo de Wartburg. A Bíblia, a mesa e a poltrona são apenas réplicas. Conta-se que a mesa original foi desmontada aos poucos pelos peregrinos, que levavam pedacinhos. 8. Celibato e casamento Muito antes de seu casamento com Katharina von Bora, uma ex-freira cisterciense, Martinho Lutero tinha uma opinião clara sobre a sexualidade de monges e freiras. Ele acreditava que o celibato exigia poderes sobre-humanos e que apenas uns poucos entre milhares poderiam abster-se de sexo, mesmo com a ajuda de Deus. Para Martinho Lutero, a sexualidade e o casamento eram parte da ordem divina. A freira cisterciense Katharina von Bora tomou contato com os escritos de Martim Lutero que chegaram escondidos dentro do convento. Ela e outras onze freiras, convertidas pelas ideias do reformador, fugiram do convento em 1523 e foram para Wittenberg atrás de Martinho Lutero. Dois anos depois, Katharina von Bora casou-se com Martinho Lutero. Martinho Lutero e sua esposa, de Lucas Cranach, o Velho, 1529. 9. Revoltas camponesas Durante a revolta dos camponeses contra a aristocracia e o clero católico, de 1524 a 1526, Martinho Lutero inicialmente conclamou todas as partes a buscarem a paz. Mais tarde, porém, escreveu que os camponeses eram “hordas salteadoras e assassinas” e pediu às autoridades que usassem contra eles suas espadas em nome de Deus. Martinho Lutero achou inaceitáveis as reivindicações políticas e sociais dos camponeses e exigiu a obediência aos seus senhores. Mais tarde, no século XIX, suas ideias serviriam de base para governos autoritários alemães. Entre 1524 e 1526, cerca de 300 mil camponeses alemães se sublevaram contra os privilégios e a corrupção da Igreja Católica. Cerca de 100 mil morreram nos combates; os líderes foram condenados à morte, como mostra a gravura, e os sobreviventes foram multados e obtiveram poucos ou nenhum de seus objetivos. 10. Antissemitismo Até 1536, Martinho Lutero era um entusiasta na conversão de judeus ao cristianismo luterano. Mas, diante da dificuldade, publicou, em 1543, uma resposta ao fracasso pessoal intitulada “Contra os judeus e as suas mentiras” em que demonstrou forte oposição à religião judaica. Chegou a pedir que ateassem fogo às sinagogas e escolas judaicas, além de afirmar que os judeus deveriam ter as casas destruídas, assim como os bens e livros religiosos apreendidos. Mas Martinho Lutero não era o único antissemita entre os cristãos. Outros teólogos reformadores, bem como representantes da Igreja Católica e humanistas famosos, como Erasmo de Roterdã, ofendiam a religião judaica. Fonte DURANT. Will. A reforma. Rio de Janeiro: Record, 2002. LUTERO, Martinho. Da liberdade do cristão: prefácios à Bíblia. São Paulo: Unesp, 1998. LUTERO, Martinho. As 95 teses e a essência da Igreja. Vida, 2017 FEBVRE, Lucien. Martinho Lutero um destino. Bertrand, 1976. MICHELET, Jules. Mémoires de Luther. Mercure de France, 1974. RANDELL, Keith. Lutero e a Reforma Alemã. São Paulo: Ática, 1995. CHAUNU, Pierre. O tempo das reformas (1250-1550): a Reforma protestante. Lugar na História, v. 49-50, Edições 70, 1993. MARTINA, Giacomo. História da Igreja: de Lutero aos nossos dias. v. 1: A era da Reforma. São Paulo: Loyola, 1997.
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