Cerca de 40% adiam consultas e exames no período
Publicado em 31/08/2021 - 19:14 Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
A
pandemia de covid-19 levou 59,5% das pessoas com diabetes a reduzir
atividades físicas, enquanto 59,4% tiveram variação na glicemia e 38,4%
adiaram consultas médicas e exames de rotina, revela pesquisa feita no
primeiro semestre do ano passado, no início da crise sanitária. Na
sondagem, 1fora, ouvidos 1.700 brasileiros portadores da doença. A
sondagem foi liderada pelo e especialista em Educação em Diabetes da
Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Mark Barone.
Mesmo na fase inicial da pandemia, já se observavam impactos na vida dos
pacientes, como alteração da glicemia em quase 60% deles, por causa de
mudanças na rotina, disse o especialista em educação em diabetes da
Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Mark Barone, coordenador do
Fórum Intersetorial de Combate às DCNTs (doenças crônicas não
transmissíveis), que coordenou a pesquisa.
"Pessoas com doenças crônicas, como diabetes, precisam de atividade física, precisam ir às consultas médicas. Isso teve impacto imediato, o que nos preocupou muito, e era o início [da pandemia]. Imagine em todo o período prolongado”, afirmou Barone. A isso acrescenta-se o fato de muitas pessoas terem deixado de ter contato com as equipes de saúde, que foram transferidas para outros tipos de serviço. “Ficou mais difícil ter esse contato para fazer ajustes terapêuticos, para a nova rotina que as pessoas tiveram, e que seria fundamental”, afirmou.
Mortes prematuras
As doenças crônicas não transmissíveis
(DCNTs) são causa de mais de 75% das mortes no país. “Hoje em dia,
sabe-se que já estão acima de 75% as mortes causadas no Brasil pelas
DCNTs, como o diabetes. Esta é uma das principais causas de mortes, além
das doenças cardíacas, dos cânceres (neoplasias) e das doenças
respiratórias. São as que mais preocupam e causam o maior número de
mortes e de mortes prematuras”, salientou o especialista.
Depois dessa pesquisa inicial, o Fórum DCNTs acompanhou alguns grupos
que fizeram novos levantamentos, como o da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), que constatou que as pessoas estavam tendo piora também
em termos de alimentação, de consumo de bebidas, uso de cigarros e de
sedentarismo, por meio do chamado “tempo de tela”, que mede o tempo em
que a pessoa permanece diante do computador ou da televisão. “Portanto,
está tendo um comportamento sedentário, que não é saudável.”
Após a pesquisa, os pesquisadores fizeram uma estratificação e apuraram que as pessoas com doenças crônicas tiveram piora ainda maior. “Isso é preocupante”, disse Barone. Segundo ele, pessoas com DCNTs que têm piora nos indicadores de hábitos saudáveis correm mais risco de sofrer infarto, acidente vascular cerebral (AVC) ou desenvolver doença renal crônica.
Mobilização
Como fundador e coordenador do Fórum DCNTs,
Mark Barone está sempre em contato com o Ministério da Saúde, com a
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e com secretarias estaduais e
municipais de Saúde. Ele destacou a necessidade de os órgãos se
mobilizarem o quanto antes e prepararem alternativas viáveis, e citou o
caso da telemedicina, que foi muito anunciada no início da pandemia, mas
que nem todas as pessoas sabiam como acessar. “As pessoas que dependem
do sistema público, muitas vezes, ouviam falar, mas não tinham acesso a
esse tipo de atendimento, de forma generalizada.”
Barone disse esperar que o Sistema Único de Saúde (SUS) se ajuste a essa nova realidade e que, agora, o sistema esteja muito atento às potenciais consequências da piora da saúde da população, porque o grande número de pessoas que ficou represado, sem ir ao sistema, vai voltar de uma vez e com maior número de doenças. “Vai sobrecarregar. Não vai ser fácil. O sistema de saúde tem que se preparar, tem que se antecipar e lançar mão também de políticas de prevenção, para que esse acelerado risco de doenças crônicas e das suas complicações não continue dessa forma."
Projetos
Alguns projetos têm tomado forma no país e
gerado resultados positivos, destacou Barone, citando o programa da
atenção primária à saúde de Porto Alegre, organizado em parceria com a
Opas e o Ministério da Saúde. Por meio da atenção primária, esse
programa visa dar melhor atendimento às pessoas com diabetes e
hipertensão. Existem programas desse tipo também, ajustando a atenção
primária, na cidade de São Paulo, que é o programa Cuidando do Seu
Coração, e em Vitória da Conquista, na Bahia, e Teófilo Otoni, em Minas
Gerais. São programas organizados a partir de modelo específico, por
meio de parcerias com as universidades federais da Bahia e de Minas
Gerais.
Para Barone, este é o caminho. “Temos incentivado o investimento em atenção primária, porque é fundamental que não se aguarde a pessoa nos hospitais, porque é um risco muito grande”. O especialista disse que, no caso de uma pessoa com doença crônica não ser localizada para ir à unidade de saúde mais próxima de sua casa, as equipes de saúde da família devem identificá-la e buscá-la para que faça os exames necessários e os ajustes de medicamento. “Isso é muito importante para que o sistema resista a esse represamento que aconteceu durante a pandemia", afirmou.
Fonte: Agência Brasil
Edição: Nádia Franco
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