Terça 30/11/21 - 16h21
Réus por incêndio na boate Kiss começam a ser julgados na quarta-feira
Tragédia aconteceu em janeiro de 2013
Réus por incêndio na boate Kiss começam a ser julgados na quarta-feira
Tragédia aconteceu em janeiro de 2013
Era
para ser uma noite de alegria. A festa “Agromerados” marcaria a
formatura de cursos como Agronomia, Veterinária e outros, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Mas o
que aconteceu foi uma tragédia, uma das maiores da história recente do
país.
No dia 27 de janeiro de 2013, a Boate Kiss, casa noturna
localizada na Rua dos Andradas, no centro da cidade de Santa Maria,
recebeu centenas de jovens para a comemoração. No palco, dois shows ao
vivo. O primeiro, de uma banda de rock. Depois, foi a vez dos rapazes da
banda Gurizada Fandangueira, de sertanejo universitário. A casa estava
lotada: entre 800 e mil pessoas. A boate tinha capacidade para 690
pessoas.
Segundo contou na época o guitarrista da banda Rodrigo
Lemos, o fogo começou depois que um sinalizador foi aceso. Ele disse que
os colegas de banda logo tentaram apagar o incêndio, mas o extintor não
teria funcionado. Um dos componentes da bando, o gaiteiro Danilo
Jaques, morreu no local.
Naquele dia, as faíscas atingiram o teto
revestido de espuma. Em instantes o fogo se espalhou pela pista de
dança e logo tomou todo o interior da boate. De acordo com os bombeiros,
a fumaça altamente tóxica e de cheiro forte provocou pânico. Aí começou
a tragédia.
Ainda sem saberem do que se tratava, seguranças
tentaram impedir a saída antes do pagamento. Houve empurra-empurra.
Alguns conseguiram deixar o local. Muitos que não conseguiram,
desmaiaram, intoxicados pela fumaça. Outros procuraram os banheiros para
escapar ou buscar uma entrada de ar e acabaram morrendo. Segundo
peritos, o sistema de ar condicionado ajudou a espalhar a fumaça. Além
disso, um curto-circuito provocado pelo incêndio causou uma explosão.
Morreram 240 pessoas.
"Eu ouvi um grito de uma menina: ´abre,
abre, a Kiss está pegando fogo´. Quando eu olhei para o palco, eu vi um
clarão. Eu olhei para o meu amigo e disse: ´a Kiss está realmente
pegando fogo´. E nisso ele agarrou a minha mão e me puxou. Mas eu me
perdi dele, porque a fumaça já tinha tomado conta da Kiss. Eu não
enxergava um palmo na frente do nariz. Até eu me bati na primeira grade,
consegui pular aquela grade e caí para fora da boate. Eu desmaiei".
A
terapeuta ocupacional Kelen Ferreira sobreviveu com sequelas graves.
Ela perdeu o pé direito, teve queimaduras em 20% do corpo e ainda faz
tratamento pulmonar:
"Eu fiquei 78 dias internada no Hospital das
Clínicas de Porto Alegre. Quinze dias eu fiquei em coma induzido, mais
nove na UTI, que totalizaram 24, e 54 dias no quarto. Eu revivo o 27 de
janeiro todos os dias".
A perícia policial apontou que uma
combinação provocou a tragédia: o material empregado para isolamento
acústico (com a espuma irregular), associado ao uso de sinalizador em
ambiente fechado, a saída única, as falhas no extintor e a exaustão de
ar inadequada. Associado a tudo isso, o indício de superlotação.
O caso comoveu o país inteiro e provocou debates sobre a segurança de casas noturnas e locais de grande aglomeração de pessoas.
Ainda
em 2013, o governo do Rio Grande do Sul publicou a Lei Kiss, que
estabelece normas sobre segurança, prevenção e proteção contra incêndios
nas edificações e áreas de risco de incêndios no estado. O exemplo foi
seguido por várias outras cidades. Uma audiência pública no Senado
debateu a legislação de prevenção e combate de incêndios no Brasil.
Em
fevereiro de 2013, foi criada a Associação de Familiares de Vítimas e
Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, com mais de 28 mil
assinaturas, pedindo apoio do Ministério Público para a busca de
justiça.
Em março daquele ano, foram presos preventivamente
quatro investigados. Os réus são os sócios da Kiss, Elissandro Callegaro
Spohr e Mauro Londero Hoffmann; o vocalista da banda Gurizada
Fandangueira, que se apresentou naquela noite, Marcelo de Jesus dos
Santos; e o produtor musical Luciano Bonilha Leão.
Eles vão a júri popular neste 1º de dezembro, no Foro Central de Porto Alegre. (Agência Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário