No país onde livro de R$ 50 é caro, mas um jeans de R$ 200 é barato, a ignorância tem mandado uma conta com juros altos e correção monetária
- PATRICIA LAGES
Do R7
Brasileiro lê pouco, o que ajuda a ampliar a ignorância
PexelsSe alguém dissesse a qualquer pessoa que é possível mudar de vida investindo apenas R$ 50, dificilmente não fechariam negócio. Porém, ao revelar que trata-se da compra de um livro, provavelmente surgiria alguma desculpa para desistir do combinado.
O brasileiro lê muito pouco, em média, dois livros por ano. Para piorar a estatística, 30% das pessoas jamais comprou um livro. Pense: três a cada dez pessoas nunca comprou um livro sequer. Se esse número não é assustador, há algo de muito errado conosco.
Não se engane crendo que o baixo interesse pelos livros é por conta da internet, pois, no passado, os números da leitura no Brasil também não eram muito melhores do que são hoje. O motivo é a falta de interesse pelo conhecimento em geral, afinal, se o problema estivesse apenas no desprezo pelos livros, as outras formas de aprendizado estariam em alta para compensar. Mas, não. Não estão
Infelizmente, o conhecimento não é algo valorizado por grande parte dos brasileiros. Por aqui, estudar tem o objetivo de “ir bem na prova”, não necessariamente de aprender. Já cursar uma faculdade serve para ter um diploma, pois sem ele fica difícil conseguir um emprego. E até mesmo quando se alcança o emprego, pouquíssimos são aqueles que investem parte de sua renda para o aprimoramento profissional. Mesmo quando a empresa banca, poucos se candidatam a estudar.
Livros, cursos, palestras, seminários ou quaisquer coisas que tenham a ver com o ensino são, para muitos, além de chatos, caros. Até cursos gratuitos normalmente têm baixa adesão e falo isso por experiência própria. Voluntariamente ofereci um workshop sobre finanças para uma comunidade em São Paulo com mais de 100 mil habitantes. Para reunirmos 80 inscrições foi preciso um trabalho árduo da associação de moradores, mas, mesmo assim, no dia do curso menos da metade compareceu.
Em outra ocasião, ministrei uma palestra gratuita para cem pessoas e um patrocinador doou cem brindes surpresa no valor de R$ 40 cada. Cadastramos 120 pessoas (considerando que 20% não compareceriam), mas erramos feio, pois tivemos a presença de pouco mais de 70. Porém, quando algumas pessoas viram nas redes sociais que perderam o brinde, chegaram a exigir que enviássemos pelo correio. Quanto à perda da palestra, nenhum problema!
Enquanto formos um país onde as pessoas têm mais disposição para passar 6 horas na balada do que 60 minutos em uma aula não há como esperar um futuro muito diferente. O conhecimento pode até ter um custo elevado em alguns casos, mas, ainda assim, não existe nada mais caro do que o preço da ignorância.
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.
Fonte: R7 SP
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