Terça 28/09/21 - 16h21
Desemprego cai para 13,7%, revela pesquisa do Ipea
Índice no trimestre encerrado em março foi de 15,1%
Desemprego cai para 13,7%, revela pesquisa do Ipea
Índice no trimestre encerrado em março foi de 15,1%
O
desemprego recuou para 13,7% em junho, último mês do trimestre móvel
iniciado em abril. O percentual foi atingido depois de ficar em 15,1% em
março. Já a taxa de desocupação dessazonalizada, que exclui os efeitos
das variações sazonais do conjunto de dados temporais de junho (13,8%), é
a menor apurada desde maio de 2020.
Os números estão no estudo,
divulgado, ontem (27), no Rio de Janeiro, pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea). Ele analisou o desempenho recente do mercado
de trabalho, com base na desagregação dos trimestres móveis da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e em informações do Novo
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da
Economia.
A pesquisa do Ipea mostrou, ainda, que o crescimento
recente das contratações tem ocorrido, principalmente, em setores que
empregam relativamente mais mão de obra informal. Entre eles, estão o da
construção, que registrou alta anual da população ocupada em 19,6%, a
agricultura (11,8%) e os serviços domésticos (9%).
“Deu uma
melhorada. É uma coisa que a gente já estava vendo no início do segundo
trimestre. O desemprego está caindo porque a ocupação está crescendo. A
ocupação está voltando e a gente está conseguindo uma redução do
desemprego em um ambiente de aumento de PEA [População Economicamente
Ativa]. Todas aquelas pessoas que saíram do mercado de trabalho por
conta da pandemia estão voltando a procurar emprego. Mesmo com essa
população voltando, ainda assim a gente está conseguindo reduzir o
desemprego porque a ocupação está subindo”, disse a pesquisadora do
Grupo de Conjuntura do Ipea, Maria Andréia Lameiras, em entrevista à
Agência Brasil.
Outro dado do estudo é que, no segundo trimestre
de 2021, na comparação interanual, a expansão dos empregados no setor
privado sem carteira atingiu 16% e a dos trabalhadores por conta
própria, 14,7%.
Ainda com base nos dados da PNAD Contínua, o
aumento do emprego no segundo trimestre se espalhou por todos os
segmentos da população, se comparado ao mesmo período do ano anterior,
mas teve destaque o crescimento da ocupação entre as mulheres (2,2%),
jovens (11,8%) e trabalhadores com ensino médio completo (7%).
Cenário difícil
Maria
Andréia chamou atenção, no entanto, para o fato de que mesmo, com os
resultados positivos, alguns indicadores importantes mostram que outros
aspectos do mercado de trabalho brasileiro permanecem em patamares
desfavoráveis. Ela destacou que a alta da ocupação tem ocorrido muito em
cima da informalidade, o que não chega a surpreender porque foi o setor
mais atingido pela pandemia. “São eles que estão voltando. A gente vê
um crescimento grande do emprego sem carteira e do [emprego] por conta
própria”, disse.
Acrescentou que, apesar do recuo pequeno na
questão do desalento, ainda há a manutenção da subocupação em patamar
elevado. “Essas pessoas até estão voltando ao mercado de trabalho, mas
não na condição que gostariam de estar. Tem uma parcela grande da
população que pode ofertar mão de obra, mas não está conseguindo
espaço”, detalhou.
Além disso, há um dado preocupante que é o
aumento do tempo de permanência no desemprego. Os microdados de
transição extraídos da PNAD Contínua para a realização do estudo do
Ipea, indicaram que o percentual de trabalhadores desocupados, que
estavam nesta situação por dois trimestres consecutivos, subiu de 47,3%
no primeiro trimestre de 2020 para 73,2% no segundo trimestre de 2021. A
situação se agrava com o recuo da parcela de desempregados que obteve
uma colocação no trimestre subsequente de 26,1% para 17,8% no mesmo
período.
“A população que está procurando trabalho há mais de
dois anos tem sofrido bastante e isso é ruim porque tem uma literatura
grande de mercado de trabalho que mostra que, quanto mais tempo a
população fica sem trabalhar, mais difícil é a volta ao mercado de
trabalho. Quando acaba de perder um emprego a pessoa tem os contatos
próximos e a facilidade de se realocar é mais rápida. Quanto mais tempo
fica fora, vai perdendo produtividade e deixando de saber o que tem de
inovação na profissão. Fica cada vez mais difícil a pessoa voltar e ela
vai ficando obsoleta”, observou.
Pandemia
Para a pesquisadora,
não é possível dizer que essa situação ruim do mercado de trabalho é só
culpa da pandemia, porque já não estava tão bem. “A gente estava
começando a melhorar, mas, quando veio a pandemia, ainda estava com taxa
de desemprego alta, de desalento alto. A pandemia piora uma situação
que já não era boa. Tanto que, quando a gente começa a olhar a ocupação
voltando, está voltando ao nível pré-pandemia e não é uma situação que
era confortável naquele momento. Ainda que esteja voltando para aquilo
que era antes da pandemia, não é suficiente para dizer que a gente está
com um mercado de trabalho razoavelmente bom”, especificou.
Perspectivas
De
acordo com Maria Andréia, a expectativa é que o mercado de trabalho
continue melhorando, com crescimento na ocupação, mas ainda com emprego
informal. “O que vai puxar a economia nos próximos meses são os serviços
e eles são intensivos em mão de obra informal. A gente vai continuar
vendo a melhora da ocupação, mas ainda muito em cima da informalidade.
Ainda que os dados do Caged, de fato, tenham mostrado um cenário melhor
para o emprego formal, eles mostram, por exemplo, que a gente já superou
o contingente de trabalhadores do mercado formal do início da pandemia,
mas a PNAD ainda não. Pela PNAD, a gente ainda vai ver o mercado de
trabalho puxado pela ocupação informal, com uma taxa de desemprego
desacelerando lentamente”, avaliou.
Na visão da pesquisadora, se o
auxílio emergencial, que tem previsão de terminar em outubro, não for
prorrogado, sem essa renda os beneficiários terão que voltar ao mercado
de trabalho, voltando a pressionar os indicadores. Isso só será diluído
caso a criação de vagas seja superior ao número de pessoas que vão
tentar voltar ao mercado de trabalho com o fim do benefício. Segundo
ela, é isso que está ocorrendo atualmente, com o país conseguindo gerar
mais vagas do que a quantidade da população que está voltando para o
mercado.
“Por isso, a desocupação está caindo, mas está caindo
muito pouquinho e vai continuar nesse ritmo de queda bem suave por conta
dessa pressão da força de trabalho dessas pessoas que vão voltar para o
mercado de trabalho. O ritmo de criação de emprego tem que ser muito
maior, porque tem que gerar vaga para tirar quem hoje já está desocupado
e para também abarcar essas pessoas que estão saindo da inatividade e
chegando no mercado de trabalho na condição de desempregado”, disse.
Auxílio emergencial
Segundo
Maria Andréia, se houver a manutenção do auxílio emergencial isso pode
gerar alguma descompressão na População Economicamente Ativa (PEA).
“Ainda assim vai ter uma PEA crescendo, só que de uma maneira um pouco
mais suave, e a volta ao mercado de trabalho pode ser adiada por dois ou
três meses, lembrando que mesmo que reduza, a gente ainda vai ter uma
taxa de desemprego alta, porque ainda tem um contingente de
trabalhadores desempregados, um emprego informal sem nenhum tipo de
proteção e não está contribuindo para a Previdência”, afirmou,
acrescentando que o emprego informal acaba refletindo no consumo, porque
o trabalhador nesta condição não vai arriscar para fazer a compra, por
exemplo, de bens de consumo duráveis.
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