Travessia em Belém celebra legado médico-missionário no Brasil
Cerimônia fez homenagem ao primeiro barco usado pelo casal Leo Halliwell para servir populações ribeirinhas na década de 1930.
No mês de janeiro, a temperatura em Belém, capital do Pará, fica em torno de 30 graus, mas a sensação térmica provocada pela formação de chuvas amplia o impacto do calor. Chove todos os dias nesse período do ano nessa região da Amazônia, mas, na quinta-feira, dia 30 de janeiro, o sol queimava a superfície do rio Guamá, enquanto três embarcações icônicas da obra médico-missionária adventista cortavam as águas entre Belém e a Ilha do Combu, a quarta maior ilha das 39 que compõem a região insular da capital paraense.
O pequeno barco Luzeiro I foi a estrela da cerimônia, para homenagear seu legado, antes de seguir para o projeto de um museu que preservará a memória e a história do adventismo na localidade, construído na Faculdade Adventista da Amazônia (Faama). O legado se materializava na imponência dos barcos Luzeiro 29 e o recém-lançado Estrela da Manhã, que continuam o trabalho médico-missionário na região. Enquanto o barco pioneiro já está fora de circulação e foi ajustado para fazer esta travessia simbólica, o trabalho de assistência médica e missionária continua. O que aconteceu aqui não foi apenas um desfile fluvial nostálgico – foi um tributo a uma história de esperança, resiliência e salvação.
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O Luzeiro I é um barco missionário símbolo do desenvolvimento da obra médico-missionária da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Amazônia. Ele foi construído por missionários e pioneiros, entre eles o casal norte-americano Leo e Jessie Halliwell. A pequena lancha foi inaugurada em 4 de julho de 1931. Foi um instrumento de evangelismo que prestou assistência médica, educação sanitária e conhecimento da Bíblia à população ribeirinha. O trabalho missionário do pastor Leo Halliwell era fortalecido pelo desempenho incansável de sua esposa, a enfermeira Jessie Halliwell, cuidando de doenças tropicais, que devastavam comunidades naquela época.
O desfile com as três embarcações reacendeu esta memória. Líderes da União Norte Brasileira, escritório administrativo da denominação para Pará, Amapá e Maranhão; representantes da Divisão Sul-Americana, sede da Igreja para oito países da América do Sul; da Adventist Health e da ADRA Brasil para o estado do Pará, além da Faculdade Adventista da Amazônia e convidados, se juntaram para prestar homenagem à obra médico-missionária.
O pastor Bruno Raso, vice-presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia para oito sul-americanos, esteve na cerimônia e falou aos presentes. Mas a cena mais simbólica do dia aconteceu quando Noemi Neves dos Santos, de 78 anos, recebeu um abraço emocionante do médico Walter Streithorst Filho. Para quem entendia o significado daquele gesto, aquilo era mais poderoso do que qualquer discurso.
Legado histórico e missionário
Noemi não era uma simples espectadora. Professora aposentada, ela viu de perto o casal Leo e Jessie Halliwell ancorando o Luzeiro I em Vila Murujá, distrito de Curuçá, e foi batizada pelo próprio missionário. “Eu corria para o trapiche quando via o barco chegando. Pastor Léo passava filmes para os adultos, e Jessie ensinava histórias bíblicas para as crianças. Foi assim que me apaixonei por Jesus”, recordou, com os olhos brilhando. Jessie, enfermeira incansável, cuidava de gestantes em regiões tão isoladas quanto esquecidas pelo resto do mundo.
O diretor do Hospital Adventista de Belém, Jackson Freire, foi enfático ao traçar a linha entre o passado e o presente: “A Luzeiro I foi nosso primeiro hospital. O Estrela da Manhã dá continuidade a esse compromisso iniciado pelos pioneiros. Nosso dever é continuar levando assistência a essas pessoas, vendo o ser humano como um todo: corpo, mente e espírito”, detalhou.
Adimilson Duarte, diretor regional da ADRA na região norte do país, reforçou a missão. “Hoje temos o Luzeiro 29 e o Estrela da Manhã, preparados para levar atendimento médico e odontológico a comunidades que não têm acesso à saúde. O Estrela da Manhã, equipado para pequenas cirurgias, é uma resposta às necessidades desses ribeirinhos”, explicou.
O pastor André Dantas, presidente da Igreja Adventista para o Pará, Amapá e Maranhão chamou a reunião das embarcações de momento histórico. “Esses barcos, cada um em sua época, levaram e continuam levando o amor de Cristo. Hoje, testemunhamos a continuidade desse legado”, sublinhou.
O projeto Estrela da Manhã, sob a coordenação do Hospital Adventista de Belém, promete impactar mais de 55 mil pessoas anualmente nos rincões do Marajó, onde vivem 590 mil habitantes. Com cinco salas de atendimento, incluindo uma de cirurgia, a embarcação se torna um hospital flutuante. Mais do que medicina, o barco levará assistência social e espiritual, com uma família pastoral vivendo a bordo.
Navegando pelo passado, presente e futuro, a cerimônia da travessia não foi apenas um evento simbólico. Foi um lembrete de que, em tempos de conexões digitais e desinteresse humano, ainda existem missões que não se dobram ao imediatismo. Como os rios que silenciosamente esculpem a Amazônia, o legado do Luzeiro I segue vivo, fluindo incansavelmente rumo à esperança.
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