POR MARKUS DASILVA, TH.D
Começamos esta segunda parte com uma informação que pode ser novidade para alguns: Jesus nunca usou a palavra “graça”. Isso não quer dizer que a salvação não seja pela graça, mas quer dizer sim que Deus esperou até a ascensão do seu filho e o envio do Espírito Santo para que essa verdade fosse revelada aos seus discípulos de uma forma mais clara. Até a vinda de Cristo, a visão que o povo judeu tinha do plano de salvação era bem limitada e confusa, ao ponto de um grande número entre eles nem mesmo aceitasse a ideia de que haverá uma ressurreição dos mortos, limitando os benefícios de servir a Deus somente para a vida presente. Foi por isso que esperavam que a principal função do Messias fosse a restauração de Israel no cenário geopolítico. Esperavam que quando chegasse, ele faria para eles o que o Rei Davi fez para o Israel do passado (Jo 6:15).
PARTE 2 — Jesus e a Graça. Como Alcançamos a Graça.
A partir do cativeiro babilônico, e com a morte dos últimos profetas do Senhor, os líderes de Israel desenvolveram uma religião corrupta, cheia de hipocrisia e estrita adesão a rituais o qual muitos deles consistiam de cerimônias não vindas de Deus, mas sim de criação própria, conhecidas como “a tradição dos anciãos” (Mt 15:2-3). Esta adoração ritualística a Deus era imposta à população com severas penalidades se não fosse seguida à risca. Este era o panorama existente quando Jesus foi enviado pelo Pai para nos trazer o verdadeiro evangelho da salvação, primeiro para os judeus e depois para os gentios.
“Quem crê e ama o filho obedecerá aos seus mandamentos e se salvará pela graça.”
Os judeus, no entanto, não viam que todo o simbolismo existente na lei mosaica, todos os rituais, todo o sistema cerimonial estava se cumprindo com a chegada daquele simples jovem pregador de Nazaré. Para os líderes, para o povo, e até mesmo para os primeiros seguidores de Cristo, a ideia de que a salvação através da obediência à lei estava sendo substituída pela obediência às palavras de alguém que parecia ser apenas um homem comum era algo muito difícil de aceitar: “Nazaré? Pode sair alguma coisa boa de lá?” (Jo 1:46). E de fato ninguém aceitaria se não fosse pelos sinais miraculosos que ele executava com uma facilidade que só mesmo alguém com autoridade divina poderia fazê-lo: “ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele” (Jo 3:2).
A lei cerimonial, como o próprio nome sugere, constituía de cerimônias que apontavam para a chegada do Messias, quando então toda a lei, com os seus rituais e símbolos, se cumpriria e deixaria de ter o seu valor aplicativo (Gl 3:24). Aos poucos, utilizando primariamente de parábolas, Jesus ensinou o povo que a salvação seria através da obediência a ele e não mais através das leis cerimoniais entregues aos patriarcas e a Moisés (Hb 5:9; At 5:32). O jugo difícil e o fardo pesado, que eram as inúmeras leis impostas pelos líderes religiosos, seriam substituídos pelos jugo e fardo de Jesus que eram fáceis e leves: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11:28).
Jesus introduziu ao povo a graça do Pai, um lado de Deus que a maioria não conhecia. A mensagem enviada através do Filho consistia não de constante temor, acusação e condenação, como ouviam dos líderes que pregavam a lei, mas sim de misericórdia, perdão e amor: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3:17). Esta é a graça de Deus, a maravilhosa manifestação de amor, perdão e favor divino demonstrada a todos que depositam a sua fé e esperança no seu filho (Ro 1:5; Ef 1:6 Jo 3:16). Quem crê e ama o filho obedecerá aos seus mandamentos e se salvará pela graça. Quem não obedece ao filho é porque não o ama. Este rejeitou a graça e a ira de Deus permanece sobre ele (Jo 3:36).
E quais são os mandamentos de Jesus para que possamos obedecê-los? Os mandamentos de Jesus são todas as instruções que ele nos deu enquanto estava fisicamente conosco, mas podemos resumir os mandamentos de Jesus em apenas um: Jesus tem que ser tudo o que temos. Quero dizer com isso que absolutamente tudo o que amamos nesta vida deverá ser considerado sem qualquer valor, por amor a Cristo (Fp 3:8). O Senhor não poderia ser mais claro quando nos disse: “Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até a sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14:26).
O cristão não poderá simplesmente conseguir um lugar para Jesus no seu dia a dia; Jesus não pode ser apenas uma das muitas coisas que ocupam a nossa mente, como tantos imaginam. Temos que intencionalmente perder a vida atual se queremos alcançar a graça da salvação: “Porque qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida a salvará” (Lc 9:24). Foi isso o que Paulo nos ensinou quando deu o seu testemunho: “E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20). No final, apenas aqueles que se esvaziaram do eu e se tornaram uma morada viva para Jesus, entrarão na sua glória. Estes são os escolhidos do Senhor; estes alcançaram a graça da salvação: “Naquele dia, conhecereis que estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós” (Jo 14:20). Espero te ver no céu.
Nesta série:
- Parte 1 – Graça: Uma Breve Introdução No Uso Da Palavra.
- Parte 2 – Jesus e a Graça. Como alcançamos a Graça (Este texto).
- Parte 3 – Paulo e a Graça. Os apóstolos e a Graça.
- Parte 4 – Crescendo na Graça. Caindo da Graça.
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