Publicado em 27/10/2019 - 19:10
Por Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
O domingo de sol forte e céu azul foi mais um estímulo para a participação na segunda Caminhada Sesc em Defesa da Pessoa Idosa, na praia de Copacabana, zona sul da cidade. A concentração e um alongamento coletivo marcaram o início da caminhada que teve como ponto de partida o Hotel Belmond Copacabana Palace. Ao fim do trajeto de 1 quilômetro, as músicas que vinham de um carro de som parado na altura da Rua Santa Clara embalaram danças de idosos de diversos bairros e regiões do Rio, além de visitantes que acompanhaaram as atividades na pista junto à praia.
Do alto, o Bloco Bangalfumenga, que costuma arrastar foliões no carnaval, animou os participantes.
A dona de casa Lourdes Maria de Oliveira Pereira, de 73 anos, moradora de Niterói, na região metropolitana do Rio, atravessou a baía de Guanabara para estar em Copacabana e não perdeu uma coreografia acompanhando as músicas. “Estou dançando desde que cheguei. Adoro! Eu sou do Sesc Niterói. Lá é muito bom, dá muita atividade para a gente. Agora, deixa eu dançar porque adoro dançar”, afirmou Lourde Maria, encerrando a entrevista.
Outra que enfrentou a distância para chegar a Copacabana foi Marli de Assis, de 69 anos. Ela saiu de Deodoro, na zona oeste do Rio, para participar do encontro, tinha na ponta da língua todas as letras das músicas tocadas no trio elétrico e cantava alto. “É bom cantar. Gosto de música”, disse Marli, que costuma fazer caminhadas no bairro onde mora.
A programação incluiu ainda atividades esportivas e jogos de estímulo cognitivo, oficinas de artesanato e sustentabilidade, contação de histórias, avaliação nutricional e orientação de saúde bucal. As opções de divertimento se espalharam em tendas montadas na calçada que divide as pistas da orla. Embora o evento fosse destinado aos idosos, as crianças não foram esquecidas.
“Também trouxemos ações de educação infantil, porque fazemos muitas ações intergeracionais. A educação infantil veio com os avós. A ideia é conseguir falar do respeito à pessoa idosa, desde a base”, informou a gestora do Trabalho Social com Idosos do Sesc, Thaís Monteiro de Castro.
Em uma das tendas, que mostrava uma exposição de insetos, a aposentada Dóris Rodrigues, de 69 anos “bem vividos”, estava acompanhada do neto Pedro, de 10 anos. Ela disse que frequenta a unidade do Sesc de Copacabana, onde tem aulas de consciência corporal e de teatro e participa da oficina da memória. Ela mostrava-se feliz ao lado do neto. “É maravilhoso, ele adora, e a gente vem sempre que tem alguma coisa. É bom também para as crianças terem respeito não só pelo idoso, mas com todos”. Pedro disse que achou “bem legal” participar das atividades e apontou o inseto que mais chamou sua atenção: “o vagalume”.
O militar aposentado Luiz Carlos da Ressurreição, de 72 anos, disse que ficou surpreso com a variedade de atrações e deu a receita para manter a saúde em dia. “Todo ano faço um check-up para ver como está o colesterol, a glicose, como está a próstata. A idade vem chegando, e fica complicado. Não bebo cerveja, não fumo, nunca usei drogas. Estou assim, aos 72 anos, porque me cuido. Eu corro, faço trilhas, gosto de praticar esportes”, disse o aposentado, que não quer mais perder os eventos do Sesc.
Parceria
O encontro foi organizado pelo Sesc em parceria com a prefeitura do Rio. A representante do Sesc disse que a proposta era falar da valorização da pessoa idosa e, ao mesmo tempo, tratar da qualidade de vida. “A gente está aqui com equipes de esporte e de saúde, orientando, inclusive, com a chancela da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. A gente está tratando de saúde com cuidados de pressão, de equilíbrio, tratando o idoso em diversas dimensões. O trabalho social com idosos do Sesc acontece há mais de 50 anos, e hoje a gente trouxe idosos de todo o estado”, destacou Thaís.
O secretário municipal de Envelhecimento Saudável, Qualidade de Vida e Eventos do Rio, Felipe Michel, disse que este domingo era um dia de festa, de respeito aos idosos e serviu para provocara reflexão e conscientização sobre os direitos deles, mas, ainda assim, lembrou os problemas que enfrentam, como o alto nível de casos de violência.
Segundo o secretário, até agora, os registros superam o total de casos ocorridos no ano passado. “No ano passado, foram 979 denúncias de violência contra a pessoa idosa e, até este momento, já temos mil, passamos o número do ano passado. É abuso do poder econômico, violência psicológica, violência física. Infelizmente o número de [casos de] violência é cada vez maior”, lamentou.
Michel informou que as denúncias recebidas pela secretaria são encaminhadas ao Ministério Público e à Polícia Civil do Rio e alertou que a maioria dos registros indica que a violência parte de parentes dos idosos. O secretário pediu a participação da sociedade para informar os casos de abusos. “Ás vezes, a violência está dentro da nossa casa, ao lado da nossa casa, e a gente está calado. Temos que denunciar usando o 1746, porque é muito importante para que possamos agir, levando a julgamento e prendendo todo aquele que comete violência contra a pessoa idosa.”
Para o secretário, a falta de respeito aos idosos nos meios de transportes também preocupa. Ele lembrou que existe um decreto da prefeitura Crivella, que transformou todos os assentos dos coletivos em prioridade, que não foi suficiente porque não é respeitado. “As pessoas fingem que estão dormindo, e o idoso fica em pé. Constatamos também motoristas que ainda não respeitam, passam direto e não param para a pessoa idosa que tem acesso grátis ao transporte”, acrescentou Michel.
Ele estimou em 6 mil o número de participantes nas atividades deste domingo, mas, pelos cálculos da gerente do Sesc, o número superou os 10 mil desde o início. No transporte dos idosos, foram usados 100 ônibus, sendo 70 do Sesc.
Doações
A gestora do Trabalho Social com Idosos do Sesc lembrou que as atividades também tiveram o seu lado social, com a contribuição de 1 quilo de alimento não perecível, recebida dos participantes.
Segundo Thaís, até as 13 h, já tinham sido recolhidas 6 toneladas de alimentos que serão entregues ao programa Mesa Brasil Sesc, que repassa as doações a entidades assistenciais cadastradas, como creches e asilos.
Fonte: Agência Brasil
Edição: Nádia Franco
Nenhum comentário:
Postar um comentário